Uma técnica muitas vezes usada de forma sutil (e às vezes nem tanto) é o red herring, ou falácia do arenque vermelho. Originalmente vinda da lógica e do debate, essa estratégia consiste em desviar a atenção do público de um ponto importante para outro menos relevante, mas visualmente ou emocionalmente mais atrativo. E no marketing visual, isso se traduz em decisões de design feitas para distrair, seduzir ou manipular a percepção do consumidor.
O que é a falácia do red herring?
A expressão vem da prática de usar um peixe de cheiro forte (o arenque vermelho) para distrair cães farejadores durante treinamentos. Na argumentação, um red herring é usado para mudar de assunto ou confundir. No design, ele aparece quando o visual é usado para esconder falhas do produto, desviar o foco do essencial ou gerar engajamento sem substância.
Red herring aplicado ao design gráfico
O red herring no design pode se manifestar de diversas formas:
- Embalagens visualmente atraentes para mascarar qualidade inferior do produto
- Campanhas com apelo emocional ou visual forte que não condizem com a experiência real
- Reposicionamento visual para parecer inovação, quando o produto é basicamente o mesmo
Vamos aos exemplos práticos:
. Relançamento do Crystal Pepsi (2015)
A Pepsi relançou sua versão transparente da bebida original como um item nostálgico. A estética minimalista, “clean” e retrô foi o foco da campanha — mas o produto continuava sendo um refrigerante com gosto bastante similar ao original, sem nenhum ganho real em saúde ou inovação.
Red herring visual: A transparência e o design foram usados como símbolo de “pureza” ou “novidade”, mas não havia mudança significativa no conteúdo.
. Sabonetes e produtos “naturalmente” verdes
Muitas marcas de cosméticos e higiene pessoal utilizam embalagens com elementos naturais (folhas, texturas de papel kraft, tons verdes) para sugerir que são “ecologicamente corretos” ou “naturais”. No entanto, ao analisar a composição, muitos desses produtos continuam repletos de sulfatos, fragrâncias sintéticas e corantes.
Red herring simbólico: O design verde engana, associando o produto a uma ideia de sustentabilidade que não se confirma na prática.
O design gráfico é a primeira camada de contato entre marca e público. Quando um visual conta uma história, o cérebro tende a aceitá-la antes mesmo de analisar os dados reais. A falácia do red herring mexe com a percepção emocional e estética.
Embora eficaz no curto prazo, o uso recorrente do red herring pode gerar desconfiança e danificar a reputação da marca. No design, a estética deve andar lado a lado com a autenticidade. Usar o visual apenas para distrair pode ser visto comomanipulação — e o consumidor atual está cada vez mais atento a isso.
A falácia do red herring mostra que o design gráfico é uma ferramenta poderosa — capaz tanto de elevar a experiência quanto de desviar o olhar. O desafio dos designers e estrategistas visuais é equilibrar forma e conteúdo, beleza e verdade. Afinal, um bom design não esconde, revela.
