A chegada da Indústria 4.0, marcada pela automação avançada, Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial, manufatura aditiva e integração ciberfísica, vem transformando profundamente a maneira como produtos e serviços são concebidos. Nesse cenário, o design deixa de ser apenas um agente estético e passa a ocupar papel estratégico na inovação tecnológica, na modelagem de experiências e na criação de valor sustentável.
Uma das pesquisas mais relevantes e recentes sobre esse tema no contexto brasileiro é a tese “Design e Indústria 4.0 no Brasil”, de Laércio Marques da Silva, defendida na Universidade de São Paulo (USP) em 2024.
Fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.
A pesquisa examina como tecnologias emergentes estão alterando profundamente o trabalho do designer e a cultura de inovação das empresas brasileiras. A tese revela que o designer passou a ocupar uma posição central em processos de integração entre tecnologia, negócios e necessidades humanas, uma posição estratégica antes pouco acessível em ambientes industriais tradicionais.
Segundo Silva, a Indústria 4.0 exige do designer um novo repertório, que combina:
- visão sistêmica;
- uso de dados como insumo criativo e decisório;
- capacidade de trabalhar com equipes multidisciplinares;
- domínio de ferramentas digitais avançadas;
- foco em sustentabilidade e ciclos completos de vida do produto.
Assim, o design se torna um mediador essencial entre tecnologia e sociedade, garantindo que soluções altamente tecnológicas não percam de vista sua finalidade principal: gerar valor real para as pessoas.
A tese aponta que as competências tradicionais do designer como estética, ergonomia, comunicação visual e criatividade não desaparecem, mas se expandem. Agora, incluem:
1. Cocriar com máquinas e algoritmos
Softwares inteligentes e simulações aumentam a capacidade criativa e analítica do designer. Em vez de substituí-lo, tornam possível explorar alternativas complexas em menos tempo, permitindo decisões mais estratégicas.
2. Projetar para ecossistemas, não apenas objetos
O conceito de produto isolado se dissolve. Cada objeto passa a estar conectado a redes de dados, serviços e infraestruturas inteligentes. O designer precisa compreender e projetar para essa complexidade.
3. Atuar como integrador organizacional
Na Indústria 4.0, o designer se coloca como ponte entre engenharia, tecnologia, marketing, operações e experiência do usuário. Essa nova função amplia sua influência nas decisões corporativas.
Um ponto forte da pesquisa é a discussão sobre sustentabilidade. A Indústria 4.0 permite rastrear materiais, monitorar consumo energético e otimizar processos com precisão inédita. Para Silva, isso abre espaço para que o design lidere iniciativas sustentáveis, trazendo:
- redução de desperdício com manufatura aditiva;
- uso inteligente de recursos;
- modelos circulares de produção e consumo;
- maior transparência no ciclo de vida dos produtos.
O designer passa, então, a ser um agente fundamental da transição ecológica da indústria brasileira.
Apesar das oportunidades, a tese também identifica entraves importantes:
- lacunas na formação de designers para lidar com tecnologias de ponta;
- resistência cultural em empresas tradicionais;
- dificuldade de integrar equipamentos e sistemas digitais no contexto industrial brasileiro;
- escassez de investimento em inovação contínua.
Esses obstáculos tornam ainda mais urgente o desenvolvimento de políticas educacionais e industriais que promovam a capacitação profissional e acelerem a adoção de tecnologias 4.0 no país.
A pesquisa de Laércio Marques da Silva demonstra que o design é peça-chave da transformação digital no Brasil. Ao unir tecnologia, criatividade e visão humana, o designer se torna protagonista de uma nova etapa da indústria nacional mais inovadora, conectada e sustentável.
A Indústria 4.0 não apenas redefiniu o design: ela revelou a dimensão estratégica dessa disciplina para o desenvolvimento do país.
Fonte da Pesquisa
Silva, Laércio Marques da. Design e Indústria 4.0 no Brasil. Universidade de São Paulo (USP), 2024. Disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.
